quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Mario Alves, herói e mártir da luta pelo comunismo

(*) Frank Svensson

Tive o privilégio de conhecer o camarada Mario Alves ainda como um dirigente dedicado do PCB. Filiou-se ao mesmo ainda estudante, com 15 anos de idade, em 1939, participando das lutas estudantis contra o fascismo. Por toda a vida foi tido como um homem estudioso, inclusive do corpo teórico do marxismo-leninismo. Quis conhecer in-loco a aplicação do mesmo nas experiências da União Soviética, bem como, da China Popular. Perseguido em sua terra natal, a Bahia, veio militar no Rio de Janeiro e posteriormente em São Paulo onde dirigiu a revista Problemas. Em 1958, assumiu a direção do jornal Novos Rumos. Mário Alves dominava vários idiomas e durante o período de clandestinidade trabalhou como tradutor para garantir seu sustento.

Filiei-me ao PCB em Belo Horizonte, em 1959. Por coincidencia a primeira incumbência que me foi atribuida foi a de conduzir uma reunião onde iria falar um dirigente por nome Mario Alves. Foi no Sindicato dos bancários daquela cidade, por solicitação de Ivan Ribeiro (o filho) então dirigente da Juventude do PCB em BH. Lembro-me da presença de alguns dirigentes sindicais entre eles Sinval Bambirra. Mario Alves mostrou-se um orador brilhante, discreto mas muito seguro do que dizia. Terminada a reunião quiz saber quem eu era e o que fazia. Informei-lhe que eu era universitário e militava na base dos arquitetos e estudantes de arquitetura. Nunca me esqueci de um conselho seu: “Jovem, para ser um bom comunista é muito importante ser um bom profissional, fazer-se indispensável à sociedade pelo saber fazer”. Quantas vêzes a vida não tem me feito lembrar disso e reconhecer a profundidade de sabedoria aí contida! Esse posicionamento explica em muito a galeria de profissionais, cientistas e intelectuais que a história do PCB pode apresentar.

Quando do golpe militar em 1964, Mario Alves começou a se opor às posições predominantes no Comitê Central, formando a chamada Corrente Revolucionária. Em 1968, funda junto com Carlos Marighela, Appolonio de Carvalho e Jacob Gorender o PCBR. A proposta geral do mesmo consistia na constituição de um novo partido que reformulasse a linha tradicional do PCB a respeito da necessidade da aliança com a burguesia nacional, sem no entanto abraçar a bandeira da Revolução Socialista imediata.

No dia 16 de janeiro de 1970, aos 47 anos, Mário Alves desaparece. Foi preso pelo DOI-CODI e levado ao quartel da Polícia do Exército, na rua Barão de Mesquita, Tijuca, um dos centros de tortura da ditadura. Foi "espancado barbaramente de noite, empalado com um cassetete dentado, o corpo todo esfolado por escova de arame, por se recusar a prestar informações exigidas pelos torturadores do 1° Exército e do DOPS",

Em que pese divergências havidas, o PCB reconhece o camarada Mario Alves como herói e mártir da luta pelo comunismo e faz questão que seu exemplo e história de vida sejam conhecidos.

(*) Frank Svensson é membro da Comissão Política do Comitê Central do PCB.

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